Argolas na goela
Seqüela de eras de escravidão
Quem são as cadelas que roeram teus ossos
E rasgaram este teu coração?
Que troço é este
Algemado que exibes como chagas em holocausto?
À quem devo me dirigir para exigir tamanha retratação por
Todo dano em tua vida; pela esperança perdida; todo teu
Empenho em ler atentamente a louca realidade?!
E de que são feitos teus sonhos íntimos?
Tantos os pergaminhos...tantos os livros em estantes....
tantos os espectros em teus ninhos!
Tantos lutos, quantas lutas...
todas nossas – tão só tuas.
Tudo é áspero, ríspido, árido, tísico.
Tenso, verídico e denso demais.
Muito ácido, muito químico.
Tudo ético e tudo técnico demais.
Muito ácido, tudo caustico.
Tudo ético e tudo técnico.
Nada espírito ou etéreo.
Racionalizando tudo em tempo integral: QUE FALTA DE SAL!
-Será que na curva do tempo percebestes que a vitalidade que buscavas reside tão somente em ti e nos teus ideais?
TUA POESIA CHEIRA A AMARGURA...
Tanta vulgaridade, quanto engano,
Tanto sofrimento por nada.
Tanto pano para as poucas vestes
Destas bestas e febris pestes que
com lábios de carmim e almas envenenadas
sangraram teu ectoplasma com olhos de caco-de-vidro.
Despiram tua falsa nobreza e a doce singeleza
que insistia pulsar dentro de ti.
Pela necessidade ainda surda de atender
aos apelos do campo, as róseas manhãs,
ao abraço do vento ao acorde intenso das ondas do mar!
Tu te moldastes em forma de bronze
Há zinabre em teu olhar!
Não há mais natureza em ti, e ... aí
Por quem ou o quê devo lutar?!
Arruinaram tuas esperanças
tecidas em cada sílaba ou lembrança
de tuas canções de ninar.
Nem os anjos me atendem agora
Embora a esta horas durmam solenes!
Guardiões do nosso dia-a-dia de mortais que vivem
esculpindo idéias para não amar.
Nada de mágico posso rogar!
Nem à minha Virgem Maria,
Nem a Madre Tereza de Calcutá!
Eu teu vejo um Cristo triste e desprezado.
Me angustia ler tuas falas.
Na imagem deste sacrifício materialista
ainda enxergo os furos duros em teus pulsos quentes
atados a esta Cruz que insistes em carregar!
Carregas esta amargura que contamina
o teu olhar
Que tu possas respirar mais leveza e que espantes
com um bocejo preguiçoso, toda a rabugice e frieza com que te proteges dos outros seres que ainda vivem da eterna luz.
Não tarda e já vem a tua velhice, não a faça ser assim tão triste
Volte a passear nos jardins da eterna infância do apreender o novo.
Infância serena que não tarda a voltar!
Es o Ciclo da tua essência e da natureza da tua vida.
E a maior idéia de ARGOLA que te desejo
é a que o mundo na sua sabedoria puder lhe livrar.
Meu amigo e doce ex-seminarista.
De quantas esquinas esguias e sombrias quer esta tua alma fugir?
Na virtual e cibernética relação com os teus versos estas fixado.
A caso te alimentas das palavras e a elas tão somente do que ainda resta de Ti.
Quantas mãos negastes afago espontâneo ou calculado como quem não tem por que tocar ternamente em alguém.
Por que vigiar teu vigia já que não cansa de te vigiar?
Este é teu máximo esforço humano: o de se conter ou patrulhar.
Pobre prisioneiro de si mesmo onde nenhum gesto nasce espontâneo!
Nem as covinhas do seu seco sorriso tão pouco as rugas do teu crânio!
Ciclo vicioso dos que já perderam a espontaneidade. São Mármores ou Carraras...
Calculas em conta-gotas todos os líquidos sorvidos de tua fronte?
Quanto de tua emoção foi excretado?
Sabes a fibra que tem com a ponta de teu lápis-punhal?!
-às vezes és a própria Seca, noutras o Temporal.
Arde a tua pinimba implicante
com tudo és crítico-militante!
Não teme nem a mudança e os fenômenos naturais.
Tua vida é tão sem esperança...
Fique em paz, com a tua criança e reaprenda a deixá-la brincar!
Nas lembranças do pródigo menino
reside o gosto apurado pelas letras,
pelo luzir das idéias da consciência das necessidades do mundo.
Tu és luz contrastada na penumbra desta vida mal revelada onde o poeta não esconde sua tês azulante.
Branca e translúcida a tes do poeta
desvelada e arrogante.
Parece que teme ser decifrado por qualquer ser
que julgas repugnante.
Escreves para não morrer mas morres a cada instante.
E daqui de dentro de mim, vendo tudo me causa desconforto impotente.
Queria dizer-te simples e honestamente que tudo no universo deve se harmonizar.
Nem a tua cética visão materialista e fria sobrevive sem o que é puro e espontâneo no meu modo de pensar.
Parece que as lentes grossas de teus óculos parecem impedi-lo de enxergar
que na ternura da amizade reside um respeito e uma certa arte de contemplar.
Em teu universo pessoal, sinto-me invasora ou ser repugnante.
Pena, sou só uma amiga a querê-lo ajudar.
Ah... este cheiro de mofo, este cheiro de urina, este aroma de café coado na hora pela figura negra e feminina.
Isto parece aristocrático demais para ser o homem que leio.
Isto é pouco, solitário e feio.
Vem a bandeja co as xícaras enebriantes.
Aquela fumaça trás em mim outro desejo.
De gole em gole
Meu hálito fica amargo e resistente.
Percebo tuas mãos enérgicas e cheias de crença
não há espaço para sutilezas e ternura nesta tua vida que transpira amargura.
Deus... a hora se arrasta.
A humanidade neste milênio terá que desfazer os nós de tuas argolas!
Alguns cegos outros apenas embaraçados
Mas que tentam agonizar solução pacífica para as nossas buscas.
Argolas, ora-bolas!
Aqui neste ensaio poético são só Farolas
Dos homens sem cartolas com dores nas bolas e
das mulheres sem calcinhas e sutiãs – nuas até da consciência do papel que
representam na tua cama de pregos forrada de cetim amarelo.
Tire de teus versos a foice e o martelo e de teus amores está amargura sem fim!
Buscas a quem não amas atirando em que não desejas prender.
No fundo, para mim, argolas são alianças.
São desejos de vida mansa compartilhada desde criança
com o teu ideal de mulher que hoje é refletido por ti, no espelho do teu toucador.
Ser amiga de um intelectual tão especial é bom mas também nos causa dor.
Com muito carinho da sempre amiga, Kátia da Luz
Para Álvaro Mendes (Jornalista e Poeta)