domingo, 6 de setembro de 2009

“Daquilo que insistimos em esconder”

Sentes?

É o teu coração que mente.

Não quer revelar teus segredos

E acabas morrendo de medo.


Ouves?

No silêncio, entrecortamos olhares.

E com ares de quem acorda de um sono profundo,

Desnudamos – por um segundo – o nosso mundo.


Eu?! Espio pelas beiradas de tua alma

Dores e amores interrompidos por tumultos

Ou tédio. Que Remédio?!


Tu?! finges à mim que não percebes

Além da lágrima no canto do meu sorriso

enquanto piso em de seus pés.

- Quem tu és?

E vamos nós, nesta intensa empreitada

Numa viagem que é tudo e é nada

Vasculhando intimidades

Por mais que resistam os nossos segredos,

Rompemos o medo


Atiramos contra o escuro de futuro

Uma chama quente que o sentimento

Nos concede neste finito presente.


Um brinde, uma canção e a eterna oração

Para permanecermos livres da tentação

De fugir para o esconderijo da alma sem termos

Tido a possibilidade de vivenciar a paixão ou

Aquilo que insistimos em esconder.



Katia da Luz.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

“QUEBRANDO ARGOLAS”



Argolas na goela

Seqüela de eras de escravidão

Quem são as cadelas que roeram teus ossos

E rasgaram este teu coração?


Que troço é este

Algemado que exibes como chagas em holocausto?

À quem devo me dirigir para exigir tamanha retratação por

Todo dano em tua vida; pela esperança perdida; todo teu

Empenho em ler atentamente a louca realidade?!

E de que são feitos teus sonhos íntimos?


Tantos os pergaminhos...tantos os livros em estantes....

tantos os espectros em teus ninhos!

Tantos lutos, quantas lutas...

todas nossas – tão só tuas.



Tudo é áspero, ríspido, árido, tísico.

Tenso, verídico e denso demais.

Muito ácido, muito químico.

Tudo ético e tudo técnico demais.


Muito ácido, tudo caustico.

Tudo ético e tudo técnico.

Nada espírito ou etéreo.


  • Onde foi que todas as modelos de virtude feriram tua criança?Classificando tudo, pondo tudo cartesianamente em categorias de pensamento.

Racionalizando tudo em tempo integral: QUE FALTA DE SAL!


-Será que na curva do tempo percebestes que a vitalidade que buscavas reside tão somente em ti e nos teus ideais?


TUA POESIA CHEIRA A AMARGURA...

Tanta vulgaridade, quanto engano,

Tanto sofrimento por nada.

Tanto pano para as poucas vestes

Destas bestas e febris pestes que

com lábios de carmim e almas envenenadas

sangraram teu ectoplasma com olhos de caco-de-vidro.





Despiram tua falsa nobreza e a doce singeleza

que insistia pulsar dentro de ti.


Pela necessidade ainda surda de atender

aos apelos do campo, as róseas manhãs,

ao abraço do vento ao acorde intenso das ondas do mar!


Tu te moldastes em forma de bronze

Há zinabre em teu olhar!

Não há mais natureza em ti, e ... aí

Por quem ou o quê devo lutar?!


Arruinaram tuas esperanças

tecidas em cada sílaba ou lembrança

de tuas canções de ninar.


Nem os anjos me atendem agora

Embora a esta horas durmam solenes!

Guardiões do nosso dia-a-dia de mortais que vivem

esculpindo idéias para não amar.


Nada de mágico posso rogar!

Nem à minha Virgem Maria,

Nem a Madre Tereza de Calcutá!



Eu teu vejo um Cristo triste e desprezado.

Me angustia ler tuas falas.

Na imagem deste sacrifício materialista

ainda enxergo os furos duros em teus pulsos quentes

atados a esta Cruz que insistes em carregar!

Carregas esta amargura que contamina

o teu olhar


Que tu possas respirar mais leveza e que espantes

com um bocejo preguiçoso, toda a rabugice e frieza com que te proteges dos outros seres que ainda vivem da eterna luz.


Não tarda e já vem a tua velhice, não a faça ser assim tão triste

Volte a passear nos jardins da eterna infância do apreender o novo.

Infância serena que não tarda a voltar!


Es o Ciclo da tua essência e da natureza da tua vida.

E a maior idéia de ARGOLA que te desejo

é a que o mundo na sua sabedoria puder lhe livrar.


Meu amigo e doce ex-seminarista.

De quantas esquinas esguias e sombrias quer esta tua alma fugir?
Na virtual e cibernética relação com os teus versos estas fixado.

A caso te alimentas das palavras e a elas tão somente do que ainda resta de Ti.



Quantas mãos negastes afago espontâneo ou calculado como quem não tem por que tocar ternamente em alguém.


Por que vigiar teu vigia já que não cansa de te vigiar?


Este é teu máximo esforço humano: o de se conter ou patrulhar.


Pobre prisioneiro de si mesmo onde nenhum gesto nasce espontâneo!

Nem as covinhas do seu seco sorriso tão pouco as rugas do teu crânio!


Ciclo vicioso dos que já perderam a espontaneidade. São Mármores ou Carraras...


Calculas em conta-gotas todos os líquidos sorvidos de tua fronte?

Quanto de tua emoção foi excretado?


Sabes a fibra que tem com a ponta de teu lápis-punhal?!


-às vezes és a própria Seca, noutras o Temporal.


Arde a tua pinimba implicante

com tudo és crítico-militante!

Não teme nem a mudança e os fenômenos naturais.


Tua vida é tão sem esperança...

Fique em paz, com a tua criança e reaprenda a deixá-la brincar!


Nas lembranças do pródigo menino

reside o gosto apurado pelas letras,

pelo luzir das idéias da consciência das necessidades do mundo.


Tu és luz contrastada na penumbra desta vida mal revelada onde o poeta não esconde sua tês azulante.


Branca e translúcida a tes do poeta

desvelada e arrogante.

Parece que teme ser decifrado por qualquer ser

que julgas repugnante.


Escreves para não morrer mas morres a cada instante.


E daqui de dentro de mim, vendo tudo me causa desconforto impotente.

Queria dizer-te simples e honestamente que tudo no universo deve se harmonizar.

Nem a tua cética visão materialista e fria sobrevive sem o que é puro e espontâneo no meu modo de pensar.


Parece que as lentes grossas de teus óculos parecem impedi-lo de enxergar

que na ternura da amizade reside um respeito e uma certa arte de contemplar.


Em teu universo pessoal, sinto-me invasora ou ser repugnante.

Pena, sou só uma amiga a querê-lo ajudar.



Ah... este cheiro de mofo, este cheiro de urina, este aroma de café coado na hora pela figura negra e feminina.


Isto parece aristocrático demais para ser o homem que leio.

Isto é pouco, solitário e feio.


Vem a bandeja co as xícaras enebriantes.

Aquela fumaça trás em mim outro desejo.


De gole em gole

Meu hálito fica amargo e resistente.

Percebo tuas mãos enérgicas e cheias de crença

não há espaço para sutilezas e ternura nesta tua vida que transpira amargura.


Deus... a hora se arrasta.

A humanidade neste milênio terá que desfazer os nós de tuas argolas!

Alguns cegos outros apenas embaraçados

Mas que tentam agonizar solução pacífica para as nossas buscas.


Argolas, ora-bolas!

Aqui neste ensaio poético são só Farolas

Dos homens sem cartolas com dores nas bolas e

das mulheres sem calcinhas e sutiãs – nuas até da consciência do papel que

representam na tua cama de pregos forrada de cetim amarelo.


Tire de teus versos a foice e o martelo e de teus amores está amargura sem fim!


Buscas a quem não amas atirando em que não desejas prender.

No fundo, para mim, argolas são alianças.

São desejos de vida mansa compartilhada desde criança

com o teu ideal de mulher que hoje é refletido por ti, no espelho do teu toucador.


Ser amiga de um intelectual tão especial é bom mas também nos causa dor.

Com muito carinho da sempre amiga, Kátia da Luz



Para Álvaro Mendes (Jornalista e Poeta)

Máscaras




Máscaras são falas

Que calam no canto

Da alma


Máscaras tão calmas

Quando angustiantes.


Inocentes quando úteis

Ao sistema que as fabrica


Máscaras tão caras!

Fúteis e fósseis.


Máscaras dantescas

Anagramas, esfinges

E mortas:


Tão cheias de vida.


Kátia da luz.

A SEDE DO POTE



Eu ia com muita sede ao pote,
como se o que matasse a minha sede fosse o pote.

Hoje prefiro dormir com a roupa do meu sonho me por de pé; nunca mais acordar.

Caminho por dentro, não há pressa
tenho todo o tempo da vida (e só ele)

O mundo me assusta, quando não me aflige
e me aflige quando não me assusta

Prefiro encarar o pavor de todo o desconhecido

As roupas surradas de meu corpo
me vestem a pele de panos, e estas
vestes estão cheias de carne
e sonho e osso e vida

O que retenho é o meu conteúdo
O que não retenho é o que mata a minha sede.




Katia da Luz